Pois é, o câmbio flutuante, flutua. Brincadeira a parte, muita gente que está sem entender porque a cotação da moeda estrangeira, em especial o dólar, está tão elevada deve considerar em primeira análise que a intenção de optar por um câmbio flutuante, em que o jogo da oferta e procura pela moeda estrangeira define a sua cotação, é deixar o mercado encontrar seu ponto de equilíbrio.
Vale lembrar que mesmo o câmbio sendo flutuante, a Autoridade Monetária, no caso o Banco Central brasileiro, pode e deve intervir neste mercado quando há um desarranjo, o que implica dizer que fortes oscilações tanto para cima como para baixo, em curto espaço de tempo, são motivos mais que suficientes para que o Banco Central interfira no mercado, vendendo ou comprando moeda estrangeira ou títulos cambiais, até que o mercado se estabilize.
Mas afinal o que tem levado o dólar a ter uma cotação elevada? Algumas explicações veem do exterior, é o que denominamos de percepção ou aversão ao risco. Começamos o ano com atritos entre Estados Unidos e Irã no Oriente Médio. Depois a demora na assinatura do acordo comercial entre Estados Unidos e China e agora o surto de coronavirus.
Mesmo superando alguns eventos, como o caso do Irã e acordo comercial dos Estados Unidos e China, houve turbulência no mercado, levando os investidores no mundo todo a se protegerem em moeda forte, no caso o dólar. Quando o mercado iria se acalmar veio o coronavírus, indicando abalos no comércio internacional.
A desaceleração da economia chinesa, provoca um efeito dominó, atingindo os mercados mundiais. Países emergentes como o Brasil sofrem mais estes efeitos devido as fragilidades econômicas internas.
No contexto econômico brasileiro, portanto, no ambiente doméstico também há justificativas para elevar a cotação do dólar frente ao Real. A mudança da política monetária, por exemplo, praticando a menor taxa de juros da história, com juros básicos de 4,25% ao ano, torna o Brasil menos atraente para aportes do capital estrangeiro.
A ração foi reduzida para o capital estrangeiro que especula no Brasil. Perderam ganhos nominais e ganhos reais (acima da inflação), posto que, a diferença entre a inflação anual e os juros básicos também é menor da história. Também o saldo da balança comercial brasileira está em queda.
Resumindo: o Brasil convive com um problema de fluxo de capital de estrangeiro. Menor oferta de dólar, mesmo que a demanda não suba, a cotação se eleva. Até mesmo o posicionamento do Ministro da Economia, Paulo Guedes, colocou mais lenha na fogueira, declarando que o Brasil precisa aprender a operar com dólar mais elevado. O mercado fica testando novo piso diariamente.
O alento geral é que já tivemos a preço de hoje um dólar de mais de R$ 7,50 (atualizando por paridade de moedas o dólar de R$ 4,00 de quando Lula foi eleito pela primeira vez), e conseguimos sobreviver. Os riscos efetivos para uma cotação alta estão na contaminação dos preços internos, o que por enquanto não foram sentidos nos índices de inflação já conhecidos.
Diante deste cenário que não venham os intervencionistas de plantão imaginar que devemos praticar o câmbio fixo. Não precisa ir longe para ver que isso não dá certo, é se olhar a economia da Argentina.
Deixemos o câmbio flutuar e intervenhamos quando ocorrerem desarranjos, o resto é excesso de intervencionismo, que não tem mais espaço nos dias de hoje.
Reinado Cafeo é economista e presidente da Associação Comercial e Industrial de Bauru -ACIB. 🌐 www.reinaldocafeo.com.br
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